Esse texto está no interior do Programa do Espetáculo. Quem sabe pode gerar discussões????
Essa tem sido minha vontade ainda não realizada com as postagens do blog.
Abraços a todos.
Histórico do Trabalho:
Foi, portanto, um espetáculo pensado como pesquisa antes de tudo. Pesquisa não de uma técnica específica, mas de processos que tornassem conscientes para os atores, atingindo seu maior grau possível de expressividade, os próprios questionamentos políticos que esses atores estavam se colocando:
De que forma os indivíduos marginalizados, pertencentes aos grupos excluídos (mulheres, homossexuais, negros, miseráveis), muitas vezes se tornam responsáveis diretos pela perpetuação das próprias relações de subordinação que os aniquilam como seres humanos? Quais são os mecanismos de introjeção dessas condições?
Dessa maneira foi necessário, para acompanhar a maneira pela qual esses questionamentos se deram, encontrar um lugar que não pertencesse ao circuito oficial onde o teatro de Salvador se realiza para apresentar os espetáculos. Isso porque era necessário que o próprio público que fosse nos visitar se deslocasse da sua realidade cotidiana para uma outra, que mesmo aparentemente destituída de sentido, é plena de um infeliz realismo, triste e comum.
Marcados por uma estréia de enorme sucesso no Evento da Calorosa da UFBA (2006) cumprimos uma temporada de março a agosto de 2006 na Escola de Belas Artes da Universidade Federal da Bahia, onde, numa sala de concreto, se erguia a estrutura do triste barraco onde habita nossa Neusa Sueli.
O esforço valeu a pena, especialmente nos dias de espetáculos que se enchiam de um público não habituado ao teatro e que, atraído pelos preços populares que cobrávamos, sentia-se diretamente tocado pelos debates que estávamos propondo ali.
Navalha na Carne, com todas as dificuldades de apoio e patrocínio, além desses meses em cartaz, viajou para o Ceará, como participante da mostra SESC Cariri, onde teve notável sucesso de público e crítica e para o Recôncavo Baiano, onde se apresentou na Bienal do Recôncavo (realizado
Finalmente, no ano de 2007, foi o espetáculo teatral mais indicado ao Prêmio Braskem e acabou levando os prêmios de melhor ator e direção. Perguntar-se-ia então porque não voltamos em cartaz, aproveitando a visibilidade do prêmio em benefício do espetáculo já no ano de 2007, e a resposta é muito simples. Seria impossível, sem ajuda governamental.
Há espetáculos que se destinam às grandes bilheterias, e é maravilhoso que assim seja. Por outro lado há espetáculos cuja realização, extenuante e onerosa em termos de recursos humanos, é instrumento para debates que só podem se realizar se obtiverem apoio do Estado (pois que pouco aproveitariam àqueles que teriam condições financeiras de patrociná-los). São feitos para pequenos públicos e só fazem sentido se os ingressos forem vendidos a preços acessíveis para a população pobre.
Navalha na Carne é assim.