domingo, 18 de maio de 2008


DESCONCERTO, ESPETÁCULO VENCEDOR DO FESTIVAL DE IPITANGA 2008!!!
PRÊMIO DE MELHOR ATOR: ANDRÉ ROSA


Hoje, dia 18 de maio de 2008, é uma data muito feliz para nós, do Teatro Gente-de-Fora-Vem. Comemoramos o reconhecimento do trabalho desenvolvido por este grupo de pesquisas teatrais no ano de 2007 e que resultou no espetáculo Desconcerto. Tal reconhecimento vêm do fato de havermos obtido seis indicações no Festival Nacional de Teatro de Ipitanga, das quais recebemos dois prêmios:

Melhor Espetáculo e Melhor Ator: André Rosa.

Sabemos que uma premiação na verdade pouco diz a respeito de qualquer trabalho artístico. Mas neste caso, eu devo adminitr que o gosto é muito diferente. Em primeiro lugar, porque Desconcerto possui, quando nasce como texto lá atrás, no ano de 1981, uma trajetória de enfrentamento de dificuldades para ser encenado (dêem uma olhada nas postagens anteriores).

Quando decidimo-nos por montar este espetáculo sabíamos que a abordagem da temática da censura e do cerceamento da liberdade do artista enfrentaria dificuldades e obstáculos. Além disso, tínhamos um homem a performatizar uma artista, questionando os parâmetros exigidos do que seja uma sexualidade comportada e aceitável.

Ao pleitearmos uma verba, junto ao Fundo de Cultura, para pequenos espetáculos, solicitamos cerca de R$ 10.000,00 para a realização deste projeto. Dentro dessa verba estava incluso o mínimo para a execução de seu figurino e cenário, além de pagamento de transporte e ajuda de custo para os trabalhadores dessa empreitada e do investimento necessário em divulgação (incluso aí material gráfico e designer).

Era, portanto, uma verba destinada à realização do Projeto (cujo cenário já se decidira que deveria ser feito em arame e outros materiais de baxíssimo custo, contando com o talento inestimável do nosso querido cenógrafo Fábio Pinheiro), mas que não contava sequer com a remuneração dos artistas envolvidos, que esperavam poder obtê-la ao longo das temporadas futuras e premiações que porventura o espetáculo pudesse receber.

Recebemos então, da Diretora do Fundo de Cultura da Bahia, em 20 de setembro de 2007, a seguinte resposta à nossa solicitação:

Prezada Senhora (Era Eu)

Informamos que a Comissão Gerenciadora do Fundo de Cultura da Bahia, por unanimidade dos presentes, resolve aprovar o parecer do relator não pré-selecionando o Processo nº 0800070015346, referente ao projeto “DESCONCERTO”, haja vista que o projeto não atende aos itens 10.3 “a” (valor cultural do projeto), 10.3 “b” (viabilidade técnica do projeto) e 10.3 “d” (aspectos sociais do projeto) da Resolução nº 001/07 do Fundo de Cultura da Bahia.

Cordialmente,

Carmen Lúcia Castro Lima

Diretora FCBA

Uma resposta genérica: ìtens “a”, “b” e “d”. Fiquei sem saber então ao certo o que faltara em nosso projeto, e corri para dar uma olhada no edital. Me deparei então com o fato de que a resposta havia sido genérica mesmo, de que várias alíneas correspondiam aos tais itens e de que era impossível saber ao certo o que faltara em nosso projeto, ficando, nas entrelinhas, subentendido que a solicitação não atendia “como um todo” aos itens descritos no edital. Vale lembrar que esses itens são:

10.3 O parecer do membros das comissões sobre cada projeto deverá levar em conta 05

(cinco) critérios na sua avaliação, subdivididos em 19 (dezenove) itens de analise:

a) valor cultural do projeto:

i. mérito artístico;

ii. visibilidade e repercussão;

iii. participação de novos talentos do Estado da Bahia;

iv. incentivo à diversidade;

v. tradição e/ou originalidade.

b) viabilidade técnica do projeto:

vi. consistência das informações;

vii. compatibilidade dos custos;

viii. condições de sustentabilidade futura do projeto;

ix. plano de distribuição comercial dos bens culturais;

x. capacidade do projeto de agregar recursos complementares.

d) aspectos sociais do projeto:

xiv. geração direta de emprego e renda para profissionais do Estado;

xv. efeito multiplicador do projeto;

xvi. possibilidade de formação técnica nas diversas áreas culturais;

xvii. benefícios às comunidades ou regiões menos favorecidas no acesso aos

bens culturais e aos meios de produção cultural;

xviii. plano de acesso da população aos resultados do projeto;

xix. capacidade inovadora e estruturante do projeto.

Compreendi disso portanto, como decorrência, que o Projeto não foi pré-selecionado porque não atendia a critérios de valor cultural, de viabilidade técnica e de aspectos de valorização social.

Como compreender que um trabalho, realizado por pessoas com um histórico extenso de 15 anos de comprometimento com o fazer teatral, e, inclusive, com a produção acadêmica em artes cênicas, e que já vinha sendo elaborado havia muitos meses atrás, não merecia receber a incrivelmente expressiva quantia de R$ 10.000,00?????

Bem, o esultado disso é que decidimos contrair uma dívida, vender uns pertences e arrumar R$ 3.000 que pagassem pelo menos o material do cenário e o figurino, com sua mão de obra. Há que se lembrar que no dia em que André foi provar o figurino fomos assaltados e hoje eu devo à Oi Telefonia Celualr a quantia de R$ 950,00 (já que sem celular eu cortei o contrato dos dois celulares que me foram roubados na ocasião e aí... como é que fica o “plano de fidelidade”???).

Bem, mas somos teimosos. André é filho de Oxalá, eu sou uma Omo Oxum e meu juntó com Xangô não perdoa certas teimas. E fomos lá. Uma temporada aos trancos e barrancos, jurado do Braskem bufando para assistir ao espetáculo e, Vamos lá.

E agora, 8 meses depois, eu me deparo com o Festival Nacional de Teatro de Ipitanga. Em Lauro de Freitas, loguinho ali. Bem, todas as dificuldades que um Festival pressupõe mas, não se há de negar: O Público de Lauro comparece aos Espetáculos. E é um público ótimo, respeitoso, receptivo. A apresentação em Lauro já compensou muita coisa...

Mas teve mais. Teve um júri cujo presidente sobe ao palco para dizer da forma democrática como ocorreu o processo de escolha do melhor espetáculo. E teve também uma certeza: a de que a produção não interferiu nessa esscolha ao sabor dos ventos (políticos ou “de la plata”) que a beneficiariam. Tive então a certeza de que, se eu não recebesse aquele prêmio, havia ocorrido uma escolha independente e isenta de obscuros interesses e beneficiamentos, e, sem demagogia, isso já me pareceu um prêmio. Gracias Sr. Luiz lberto Alonso!!

Volto então aqui a agradecer a Lauro de Freitas, ao Júri do Festival e à organização que o realizou, por essa noite maravilhosa.

Agradeço também especialmente ao homem de teatro Amarílio Sales e à mulher de teatro Alda Maria pela insistência em reensaiar este espetáculo na minha ausência, e pela colaboração inestimável para que ele se tornasse mais próximo do público, mais COMUNICANTE, mais sensível. Obrigada a Janaína Carvalho também e à Maria Carla, pela loucura na montagem da luz.

Estou muito feliz e muito grata:

Gracias a la vida, que me há dado tanto!

Salvador, 18 de maio de 2008.